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Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Com uma desconhecida, que amo e que me ama

Primavera casta


Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante
Com uma desconhecida, que amo e que me ama
E que, de cada vez, nunca é bem a mesma
Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende.

Porque me entende, e o meu coração, transparente
Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema
Só pra ela, e os suores da minha testa pálida,
Só ela, quando chora, sabe refrescá-los.

Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro.
O seu nome? Recordo que é suave e sonoro
Como esses dos amantes que a vida exilou.

O olhar é semelhante ao olhar das estátuas
E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda
Inflexões de outras vozes que o tempo calou.

Paul Verlaine, in "Melancolia"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

 

Mértola, Março de 2013

Jorge Soares

Dois amantes ditosos

Aves

 

Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama...

De todas as verdades escolheram o dia....
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras...
A ventura é uma torre transparente...
O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
têm direito a todos os cravos...

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem...
têm da natureza a eternidade...

 

Pablo Neruda


Com um cheirinho a Primavera... ou, ainda os pardais

Setúbal, Março de 2013

Jorge Soares

 

Envolto nos temporais

Dias de Tempestade

 

 

Quando cedo me levanto
Envolto nos temporais
Invade-me o desencanto
Não posso sair do cais

Eu gosto de navegar
Nas calmas aguas da Ria 
Impedido de ir pró mar
É aqui que passo o dia

Por aqui vou navegando
Só Deus sabe até quando
Remando na solidão

Em saudade que não esquece
Aos ceus rezando uma prece
Contida em minha oração

16MAR13
João Severino


Setúbal, Maio de 2012

Jorge Soares

Charneca em Flor

Charneca em Flor


Charneca em Flor

 

Enche o meu peito, num encanto mago, 
O frêmito das coisas dolorosas... 
Sob as urzes queimadas nascem rosas... 
Nos meus olhos as lágrimas apago... 

Anseio! Asas abertas! O que trago 
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas 
Murmurar-me as palavras misteriosas 
Que perturbam meu ser como um afago! 

E nesta febre ansiosa que me invade, 
Dispo a minha mortalha, o meu burel, 
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade... 

Olhos a arder em êxtases de amor, 
Boca a saber a sol, a fruto, a mel: 
Sou a charneca rude a abrir em flor! 

Florbela Espanca


Algures no sopé da Arrábida num dia de Primavera

Junho de 2012

Jorge Soares

Quando Vier a Primavera

quando vier a Primavera



Quando Vier a Primavera

Quando vier a Primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. 
A realidade não precisa de mim. 

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma 

Se soubesse que amanhã morria 
E a Primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo. 

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é. 


(Poemas Inconjuntos, heterónimo de Fernando Pessoa)

Alberto Caeiro


Apesar da muita chuva e do tempo frio, o sopé da arrábida vai-se enchendo de cor com o aparecimento das primeiras flores silvestres.

Setúbal, Fevereiro de 2013

Jorge Soares

O que todos os pais pensam

Eu não acredito em deus

O que todos os pais pensam

 

não acredito em deus

eu dizia nas solidões

não acredito em nada

 

as pedras ainda são as pedras entretanto

o céu ainda empurra nuvem depois de nuvem

chove e nos janeiros é ruim dormir porque o calor tem asas de mosquito

deus não está me observando e nem vai me punir porque não acredito

 

as lágrimas ainda lavam as mais belas bochechas

assim como lavam também as faces feias

os rostos dos condenados a passar anos na cadeia

as mãos despretensiosas dos trabalhadores indonésios

os lenços de papel burgueses

eu choro por uma porção de razões minhas

lágrimas amigas choram seus motivos (às vezes eu sou o motivo)

deus não faz nada para enxugá-las

deus não sabe nada sobre as alegrias e as tristezas

deus não sabe nada sobre o meu menino

 

meu menino vai ter suas cantoras preferidas e vai se apaixonar por elas e pelas mulheres que as canções de suas cantoras o lembrarem

vai chorar desesperado algumas vezes na vida e eu não vou poder fazer muita coisa

além de dizer que isso passa e que as garotas sempre nos fazem chorar

e que nem é bom ouvir certas canções em certas datas

mas que elas nos fazem muito bem também

e que quando elas estiverem tristes vai ser bom poderem contar com ele

porque ele será um bom rapaz

não só um belo homem mas um bom rapaz

 

(considerando que ele vá gostar de garotas

se ele gostar de rapazes as coisas não serão muito diferentes)

 

mas 

antes disso

meu menino vai ter de aprender a andar

e é muito bonito ver o esforço dos primeiros passos

e as suas gargalhadas pelas menores coisas de seu pequeno universo

(as coisas abstratas ele só vai entender 

quando já houver chorado por coisas abstratas)

 

deus não sabe que meu menino ainda não sabe andar

deus não sabe que meu menino tem muita sorte e muitos amores e uns quantos pares de olhos e mãos e pés para cuidar dele bem melhor que eu

e ainda que tudo corra bem

todos vão pensar ter feito algo errado

 

desconsiderando deus

todos os pais pensam

 

V.

Retirado de Samizdat 

 

Setúbal, Fevereiro de 2013

Jorge Soares

Sinto no murmurar das águas

rio

 

Sinto no murmurar das águas 
deste rio da minha vida, 
onde navegávamos na mansidão do luar
e rejubilávamos na alegria da juventude,
as melodias da felicidade,
acariciadas pela brisa daquele tempo, 
de palmeiras verdes de esperança,
onde as brumas da incerteza não existiam!

E agora, contemplando o caudal deste rio
ressequido por este tempo que se faz presente
sufoco o choro de lágrimas da nostalgia,
que me aperta o peito, na dor feita saudade!
E aqui estou, sentado, nas areias que margeiam
este rio cansado, pelas mágoas do seu percurso,
esperando nova brisa que me sopre forças,
para continuar a navegar neste leito seco
e chegar ao remanso da minha tranquilidade!

Anseio por novos rios, num tempo
que se faça fértil e de águas calmas,
navegue por entre campos floridos,
ao som melodioso dos chilreios
de aves encantadas, 
de cores garridas da paixão,
ao encontro de um novo viver.

José Carlos Moutinho

 

Algures nas Astúrias

Agosto de 2011

Jorge Soares

Que vai de céu em céu, De mar em mar

O sol

 

É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar…

 

Miguel Torga, in ‘Diário XII’

 

E de repente entrou-me a sodade.

Por do sol na Praiinha

Cabo Verde, Fevereiro de 2010

Jorge Soares

Não há ninguém somente o inverno

Inverno

 

Não falta ninguém no jardim.

Não há ninguém:
somente o inverno verde e negro, o dia
desvelado como uma aparição,
fantasma branco, de fria vestimenta,
pelas escadas dum castelo. É hora
de não chegar ninguém, apenas caem
as gotas que vão espalhando o rocio
nestes ramos desnudos pelo inverno
e eu e tu nesta zona solitária,
invencíveis, sozinhos, esperando
que ninguém chegue, não, que ninguém venha
com sorriso ou medalha ou predisposto
a propor-nos nada.


Pablo Neruda

 

Setúbal, Fevereiro de 2013

Jorge Soares

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