Nas asas da borboleta
Nas asas da borboleta
Deixou partir um amor, nas asas de uma borboleta.
Era bela e singela a borboleta, vestida de cor e luz,
mas grande era o amor, pesava como uma cruz.
E com suas frágeis asas o levou em voo rasteiro,
não ligeiro, antes cansado, vagaroso e suado.
Subiu as águas do rio até às montanhas chegar
e quase sem mais respirar poisou débil, bem devagar
numa doce cerejeira com lindos frutos vermelhos.
Deixou descair as asas a borboleta singela
e o amor escorregou, tombou, caiu na terra.
Fora um amor esperançoso, agora era magoado.
Mas a terra o acolheu e o embalou como mãe
beijou-lhe os olhos, sugou pra si a humidade
depois estendeu os braços e mostrou-lhe o horizonte
com voz quente do fim do dia cantou canções de amores
longinquos, perdidos, pró amor adormecer.
Dormiu o amor e sonhou.
Sonhou com o seu amor nas asas de borboleta,
com altas montanhas que aos céus rezavam,
com as águas da lagoa murmurando suaves palavras,
com o sol que se escondia e levava consigo o dia
e assim trazia a noite e a enfeitava de estrelas
que convidaram a lua e todos se debruçaram
olhando o amor dormir.
Dormiu sereno o amor em seu tão belo sonho.
Afinal era tudo isto quem mais amava.
Nada que tanto o prendesse como a sua bela terra mãe.
Mafalda, 23 de Julho de 2010
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