Os afogados
Se eu tivesse chegado duas horas antes, ou duas horas depois, não teria dado por eles, a maré alta faria com que o mar de lama que encontrei fosse um mar de agua, e eles estariam lá, mas eu não os teria visto, porque eles são os afogados.
Agora são só despojos esquecidos, mas já tiveram cor como todos os outros que lá estavam, já sulcaram a agua rio acima e rio abaixo, em terra de pescadores já viveram a faina diária de quem tira o pão deste rio que tantas vezes é mar.
Agora estão ali, pousados no fundo lamacento do rio, cobertos pela agua e escondidos dos olhares curiosos de quem vai ver os outros, que cheios de cor ainda sabem flutuar....e não se afogam.
Carrasqueira, Comporta, Setúbal.
Junho de 2008
Jorge