Delicada relação
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Valsinha
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz.
Vinicius de Moraes – Chico Buarque
Libelinhas no Jardim da Algodeia, Setúbal
Setembro de 2009
Jorge Soares
ROSA E SEDUÇÃO
Luz que invade, fascinante olhar.
Vertiginoso a provocar até os quasares
Brilho que me transporta a tantos lugares
Á socapa chega de manso só para me amar
Eu atravesso as nebulosas para o encontrar
Ah! Paixão em teus olhos castanhos fui me perder
Estou louca de desejo, só penso em me atrever.
E em outros beijos cedo-lhe minha alma
Rubra aura, inquieta, afoita, sem calma.
Rosa vermelha, a flor do teu prazer!
Meu destino é ser fonte de perfumes
Cheiro estonteante que muito cativa
Faz o poeta perder a rima e à deriva
Curva-se e expõe aquele divino lume
Que me veste com um manto e presume
Ser dele o idílio, a rainha, toda a inspiração.
Alcanço a eternidade no pulsar do coração
E na maciez de minha pele aveludada
Faço-o repousar até que ânsia seja aguçada
Em outros versos então ele expõe a sedução!
Abril de 2009
Jorge Soares
Apr 4, 2009, Câmara: SONY , Modelo: DSLR-A350, ISO: 250, Exposição: 1/320 seg., Abertura: 5.6, Extensão focal: 200mm
Há nos teus olhos um tal fulgor
E no teu riso tanta claridade,
Que o lembrar-me de ti é ter saudade
Duma roseira brava toda em flor.
Tuas mãos foram feitas para a dor,
Para os gestos de doçura e piedade;
E os teus beijos de sonho e de ansiedade
São como a alma a arder do próprio Amor!
Nasci envolta em trajes de mendiga;
E, ao dares-me o teu amor de maravilha,
Deste-me o manto de oiro de rainha!
Tua irmã…teu amor…e tua amiga…
E também, toda em flor, a tua filha,
Minha roseira brava que é só minha!…
Florbela Espanca - Reliquiae
Setúbal, Abril de 2009
Jorge Soares
Apr 19, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350,ISO: 100,Exposição: 1/500 seg.,Abertura: 6.3,Extensão focal: 180mm
DE VERMELHO
Espaço intocado entre terra e céu
Guardado numa massa corpórea
Possui alma, flor oculta ao léu
Oriunda do éden, fantasia etérea
Abaixo da cintura rosa sem candura
Vibra ao imaginar-se desejada
Exalando inebriante odor, tão pura...
E as falenas voam encantadas
Jardim das maravilhas no além
A ser desbravado por alguém
Atrevido ou em mesuras e galanteios
Resistir às pétalas úmidas, quem?
Tão núbil, graça que outra não tem
Vestida de vermelho, bombom e recheio!
Abril de 2009
Jorge Soares
Apr 4, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 400, Exposição: 1/125 seg., Abertura: 5.6, Extensão focal: 100mm, Flash utilizado: Sim
Florida ilusão que em mim deixaste
a lentidão duma inquietude
vibrando em meu sentir tu juntaste
todos os sonhos da minha juventude.
Depois dum amargor tu afastaste-te,
e a princípio não percebi. Tu partiras
tal como chegaste uma tarde
para alentar meu coração mergulhado
na profundidade dum desencanto.
Depois perfumaste-te com meu pranto,
fiz-te doçura do meu coração,
agora tens aridez de nó,
um novo desencanto, árvore nua
que amanhã se tornará germinação.
Pablo Neruda, in 'Cadernos de Temuco'
Tradução de Albano Martins
Março de 2009
Jorge Soares
Mar 21, 2009,Câmara: SONY DSLR-A350,ISO: 100,Exposição: 1/320 seg.,Abertura: 9.0Extensão focal: 55mm
Insónia rôxa. A luz a virgular-se em mêdo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua...
Ela dança, ela range. A carne, alcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segrêdo...
Tudo é capricho ao seu redór, em sombras fátuas...
O arôma endoideceu, upou-se em côr, quebrou...
Tenho frio... Alabastro!... A minh'Alma parou...
E o seu corpo resvala a projectar estátuas...
Ela chama-me em Iris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecôa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:
Mordoura-se a chorar--ha sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na bôca imperial que humanisou um Santo...
Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'
Não sei o que chamava a sua atenção, ela estava ali, parecia que esperava algo, eu bem tentei que ela olhasse para mim... não me ligava nenhuma... ou isso, ou eu não sei falar Irlandês.
É linda a bichaninha
Gata Irlandesa
Carrigaline, Cork, Irlanda.
Abril de 2009
Ela(?) chegou primeiro, escolheu um leito de flores e deitou-se, ele(?) veio depois, olhou para ela e não resistiu. Amor entre as flores.
Setúbal, Outubro de 2008
Os orifícios externos do aparelho reprodutor situam-se, em ambos os sexos, perto da extremidade do abdómen. Mas, vá-se lá saber porquê, o órgão copulador dos machos está localizado bem mais acima, já perto do tórax. Esta circunstância conduziu ao desenvolvimento de um estranho ritual de acasalamento. O macho começa por encurvar o abdómen para baixo de forma a fazer contactar o poro genital situado perto da extremidade com um reservatório seminal anexo ao órgão copulador, transferindo para aí os seus espermatozóides. Por vezes, antes desta autêntica “auto-fecundação” o macho já agarrou a fêmea atrás da cabeça utilizando para isso os apêndices terminais do abdómen.
Esta sujeição da fêmea pelo macho pode prolongar-se por várias horas, em repouso ou em voo, até que finalmente a fêmea encurva também o seu abdómen até colocar a extremidade contra o órgão copulador masculino. Esta derradeira conjugação dos dois parceiros em forma de coração dura apenas alguns minutos, o suficiente no entanto para assegurar a fecundação dos óvulos
De onde concluímos que o macho é o azul!
Jardim da Algodeia, Setúbal
Outubro de 2008