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Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Esta deveria ser a hora em que me recolheria

Solidão

 

Solidão

 

Aproximo-me da noite 
o silêncio abre os seus panos escuros 
e as coisas escorrem 
por óleo frio e espesso 

Esta deveria ser a hora 
em que me recolheria 
como um poente 
no bater do teu peito 
mas a solidão 
entra pelos meus vidros 
e nas suas enlutadas mãos 
solto o meu delírio 

É então que surges 
com teus passos de menina 
os teus sonhos arrumados 
como duas tranças nas tuas costas 
guiando-me por corredores infinitos 
e regressando aos espelhos 
onde a vida te encarou 

Mas os ruídos da noite 
trazem a sua esponja silenciosa 
e sem luz e sem tinta 
o meu sonho resigna 

Longe 
os homens afundam-se 
com o caju que fermenta 
e a onda da madrugada 
demora-se de encontro 
às rochas do tempo 

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

 

 

Com um tripé de certeza que sairia mais nítida e sem tanto ruido... mas será que ela se deixava apanhar?

Burgos

Agosto de 2013

Jorge Soares

Luz entre Sombras

Burgos

 

Luz entre Sombras

 

É noite medonha e escura, 
Muda como o passamento* 
Uma só no firmamento 
Trêmula estrela fulgura. 

Fala aos ecos da espessura 
A chorosa harpa do vento, 
E num canto sonolento 
Entre as árvores murmura. 

Noite que assombra a memória, 
Noite que os medos convida, 
Erma, triste, merencória. 

No entanto...minha alma olvida 
Dor que se transforma em glória, 
Morte que se rompe em vida. 

Machado de Assis, in 'Falenas'


Burgos

Agosto de 2013

Jorge Soares

Chove?, nenhuma chuva cai

Chuva

 

Chove? Nenhuma chuva cai... 
Então onde é que eu sinto um dia 
Em que ruído da chuva atrai 
A minha inútil agonia ? 

Onde é que chove, que eu o ouço? 
Onde é que é triste, ó claro céu? 
Eu quero sorrir-te, e não posso, 
Ó céu azul, chamar-te meu... 

E o escuro ruído da chuva 
É constante em meu pensamento. 
Meu ser é a invisível curva 
Traçada pelo som do vento... 

E eis que ante o sol e o azul do dia, 
Como se a hora me estorvasse, 
Eu sofro... E a luz e a sua alegria 
Cai aos meus pés como um disfarce. 

Ah, na minha alma sempre chove. 
Há sempre escuro dentro de mim. 
Se escuro, alguém dentro de mim ouve 
A chuva, como a voz de um fim... 

Os céus da tua face, e os derradeiros 
Tons do poente segredam nas arcadas... 

No claustro sequestrando a lucidez 
Um espasmo apagado em ódio à ânsia 
Põe dias de ilhas vistas do convés 

No meu cansaço perdido entre os gelos, 
E a cor do outono é um funeral de apelos 
Pela estrada da minha dissonância... 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


Burgos, Agosto de 2013

Jorge Soares

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