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Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Coisa Amar

Coisa Amar

 

Coisa Amar

 

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

 

Manuel Alegre

 

Setúbal, Junho de 2011

Jorge Soares

o Poema que não há

Balada do poema que não há, rosa

 

Balada do Poema que não há

 

Quero escrever um poema 
Um poema não sei de quê 
Que venha todo vermelho 
Que venha todo de negro 
Às de copas às de espadas 
Quero escrever um poema 
Como de sortes cruzadas 

Quero escrever um poema 
Como quem escreve o momento 
Cheiro de terra molhada 
Abril com chuva por dentro 
E este ramo de alfazema 
Por sobre a tua almofada 
Quero escrever um poema 
Que seja de tudo ou nada 

Um poema não sei de quê 
Que traga a notícia louca 
Da história que ninguém crê 
Ou esta afta na boca 
Esta noite sem sentido 
Coisa pouca coisa pouca 
Tão aquém do pressentido 
Que me dói não sei porquê 

Quero um poema ao contrário 
Deste estado que padeço 
Meu cavalo solitário 
A cavalgar no avesso 
De um verso que não conheço

 

Manuel Alegre

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa

 

Pergunto ao vento que passa

notícias do meu país

e o vento cala a desgraça

o vento nada me diz.

 

Pergunto aos rios que levam

tanto sonho à flor das águas

e os rios não me sossegam

levam sonhos deixam mágoas.

 

Levam sonhos deixam mágoas

ai rios do meu país

minha pátria à flor das águas

para onde vais? Ninguém diz.

 

Se o verde trevo desfolhas

pede notícias e diz

ao trevo de quatro folhas

que morro por meu país.

 

Pergunto à gente que passa

por que vai de olhos no chão.

Silêncio -- é tudo o que tem

quem vive na servidão.

 

Vi florir os verdes ramos

direitos e ao céu voltados.

E a quem gosta de ter amos

vi sempre os ombros curvados.

 

E o vento não me diz nada

ninguém diz nada de novo.

Vi minha pátria pregada

nos braços em cruz do povo.

 

Vi minha pátria na margem

dos rios que vão pró mar

como quem ama a viagem

mas tem sempre de ficar.

 

Vi navios a partir

(minha pátria à flor das águas)

vi minha pátria florir

(verdes folhas verdes mágoas).

 

Há quem te queira ignorada

e fale pátria em teu nome.

Eu vi-te crucificada

nos braços negros da fome.

 

E o vento não me diz nada

só o silêncio persiste.

Vi minha pátria parada

à beira de um rio triste.

 

Ninguém diz nada de novo

se notícias vou pedindo

nas mãos vazias do povo

vi minha pátria florindo.

 

E a noite cresce por dentro

dos homens do meu país.

Peço notícias ao vento

e o vento nada me diz.

 

Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.

 

Mesmo na noite mais triste

em tempo de servidão

há sempre alguém que resiste

há sempre alguém que diz não.

 

Manuel Alegre

 

Pescador à beira Sado

Setúbal, Setembro de 2009

Jorge Soares

 

Máquina SONY DSLR-A350, Exposição 1/500, Abertura f/8, ISO 100, MeteringMode Pattern, Dist.Focal 200 mm

Quinto Poema do pescador

Monumento aos pescadores, Setúbal

 

Quinto Poema do pescador

 

Eu não sei de oração senão perguntas 

ou silêncios ou gestos de ficar 
de noite frente ao mar não de mãos juntas 
mas a pescar. 
Não pesco só nas águas mas nos céus 
e a minha pesca é quase uma oração 
porque dou graças sem saber se Deus 
é sim ou não. 


Manuel Alegre 

 

Fim de tarde em Setúbal

Monumento ao Pescador, Setúbal

Março de 2009

 

 

Mar 22, 2009. Câmara: SONY.  Modelo: DSLR-A350. ISO: 100. Exposição: 1/125 seg. Abertura: 9.0. Extensão focal: 55mm. Flash utilizado: Não

 

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