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Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Ter [na ausência das marés]

Bruno mar, no sado

 

Tenho frio. Tendo um copo de vinho que se esvazia na gula dos dedos boquiabertos. Tenho sede. Embriago-me na tristeza liquefeita da vinha. Na ira da raiz. Esfrego as mãos nas parras que se despedaçam na terra. Tenho o enjoo encostado a mim. Que me atravessa em pontos determinados. No alvoroço das marés. Remo no silêncio sossegado da baixa-mar. No instante em que o horizonte é lugar no longe. No nada. Na efeméride calada. Tenho olhos de vidro. Escaqueirados no areal. Lá, onde os copos não existem e os vinhos não transportam alegrias de entoar.

 

Vai-te, flutuante casa da memória. A minha ferida segue à bolina na doce espuma do desgosto. Enfeitada com vozes afónicas. Tenho a noite. Que é mais segura sem ti. De dia, sobram-me roncos dos barcos vazios. Esburacados. Rombos nas mãos que ainda tenho. Na sede da água que se foi com a maré… Outra vez a casa. A casa deles não vem com o mar. Tenho a memória dos pardais que trinavam no telhado. A ver aqueles barcos que já não podem naufragar.

 

Sou barca atracada na quietude do desabrigo. Tenho uma mansa planície de papoilas azuis no sangue. Ardo na língua do Sol. E o barco segue, como se a foz o não tivesse afogado. Como se as amarras detivessem o vendaval. O homem do barco a remos desligou o motor. E as barcas persistem no seu carregar. Não tenho. Mas as gaivotas caçam o equívoco da abundância…

 
Texto da Paola, retirado do blog Ponto de Admiração
 
Barco no rio Sado
Setúbal, Outubro de 2009
Jorge Soares
 
25 de Out de 2009,Câmara: SONY DSLR-A350,ISO: 100,Exposição: 1/250 seg.,Abertura: 13.0,Extensão focal: 60mm

Sou folha .....

Sou folha

 

 

Sou folha. Sou livro. Agitação na desordem da flor. Sou enigma debulhado na ignorância do rodapé. Nem reparaste que o capítulo se exprimia na cabeça da folha. Abundantemente. Numa narrativa fechada.

 

Sou folha dourada. Sou gente. Desmaiada na verticalidade da árvore. Inebriaste-te no carmesim das pétalas. Bebeste a seiva liquefeita. Na totalidade da flor.

 

Sou folha. Sou rasto. Nos cardos campesinos. No orvalho que os descansa. Ali. Na fragilidade dos acúleos.

 

Sou folha. Sou eu. Na verde vertigem amarelada dos nossos corpos. Sou vento. Sou cabelo despenteado na impiedade da memória. No derramamento da luz.

 

Paola

Retirado do blog Ponto de admiração

Olhar ....

 

 

…olha-me. Fixamente nos olhos. Assim… de longe, para que não sintas o orvalho que escorre. Para que não saibas que as ervas arrefecidas se esvaecem nos prantos. Na jactância brilhante da cor que presumes. Vai-te, vaidade da efemeridade acordada. As tuas pétalas, agora acetinadas, morrerão na esquina do tempo. Às mãos de argamassa com que elevaste a distância. Não galgarás o muro, sem a verdade dos cimentos. Na certeza que há fundamentos com cor.

 

…olho-te. Amarradamente ao fim. Assim… ao longe, para que conheças a dissemelhança das cores… de longe, para que, no horizonte cinzento-branco do meu olhar, vejas que o cinzento se desconcentra numa alforria de vinhos…

 

…olho-te. De tão longe. Mas sei o arco-íris da tua pele… e o sabor que exala das pétalas carminas… com que me vencias. A mim. Assim…

 

Texto de Paola, retirado do blog Ponto de admiração

 

Apr 4, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 100,Exposição: 1/250 seg.,Abertura: 4.5,Extensão focal: 140mm,Flash utilizado: Não
 
 

 

Em tempos havia lá

Em tempos havia lá .... papoilas

 

 

Em tempos, havia lá...

 

Ai, quem me dera correr para lá. E chegar! Depois, rebolava e ria à gargalhada. Calava-me. Para ouvir os piscos a voar. E invejar-lhes a beleza da cor. A magia da voz. A afinação dos trinados na frescura da tarde. Tão tarde! O domínio apenas existe no nevoeiro da minha visão. Sobram vulcões de urbanidade de alicerces construídos. Os piscos aborrecem-se com os rumores das betoneiras.

 

Ai, quem me dera estar lá. E ficar! Saltitava de flor em flor. Escolhia-as pela cor. Sentava-me. Por estranhar efemeridade. E  abençoar-lhes a fragrância. O apego do caule. A verdade do viço na quietude da manhã. Tão cedo! Agora, as pétalas de cetim perduram pobremente no tacto dos meus dedos. Permanecem chãos de papoilas que eu matizo, se me importuno. Eu aborreço-me com os alvoroços dos jardins.

 

E agora que não estou. Eu sei! Sempre que chovia, eram as papoilas que me abrigavam. Na fragilidade das varetas. No agasalho do pano que olhava para a chuva. Para lhe descobrir o destino. A água esquecia-me e dirigia-se abundantemente para a raiz. Sustento. Eu apenas a honrava. Hoje enalteço-a.  Nua no desassossego quente do Sol. Está escuro e eu olho para lá. E percebo porque tanto gosto da chuva… e de guarda-chuvas vermelhos.

 

Texto By Paola, publicado no blog  Ponto de admiração

Pela Vida

 

Pela Visa

 

pela vida
 
 
Caminhando pelo empedrado chão da vida, contornei muros de desalento. Saltei estorvos caiados a cal. Pulei cercas e rompi a pele. Galguei sebes e caniçadas para espantar os pardais. Exasperei-me com déspotas tapumes que, ostensivamente, amordaçavam o olhar. Arredondei esquinas esgarçadas e desapareci depois. Desci! Cavalguei por recintos fechados. Encontrei-me com barreiras e obstáculos acasalados. Trilhei formigas. Perdi-me nas muralhas do castelo e aldrabei o tempo. Denunciei ecos de um passado devorado pela história. Apaguei palavras simples nos erros que empreendiam. Subi!
 
Eu fui o próprio espaço cerrado. Recinto, circuito murado. Beco sem saída confundido. Paredão atoalhado no mar.
 
Mas, nesses dias de estrada, admirei-me por atalhos que me levaram a mim. Que são caminhos estreitos que abreviam a distância … sem alfândegas. Pequenos desvios para burilar as paredes. Privativos e individuais. Pela vida fora!
 
Texto da Paola, retirado do blog:Ponto de Admiração
Fotografia minha, o que resta do aqueduto na encosta da Arrábida em Setubal.
Janeiro de 2008

No escuro

 
O cisne
 
 
No silêncio
nem sempre estou…
 
Sou nada, sou caruma
Sou água, sou espuma
Sou ruído, sou radiola
Sou pavão, sou gaiola
Sou asa, sou alvoroço
Sou seiva, sou esboço
Sou luz, sou confessor
Sou adubo, sou condor
Sou desejo, sou carne
Sou grito, sou alarme
Sou raiz, sou grainha
Sou santa, sou rainha
Sou começo, sou fim
Sou jade, sou jasmim
Sou calor, sou carvão
Sou lume, sou solidão
Sou corvo, sou trilho
Sou cisne, sem brilho
 
No silêncio,
às vezes, aconteço! 
 
Paola

 

Retirado do blog Versos a sós

 

 

PS:Porque é uma enorme honra que utilizes as minhas humildes fotografias para ilustrar os teus textos e os teus versos.

Direitos de Autor
Nenhuma parte deste site pode ser reproduzida sem a prévia permissão do autor. Todas as fotografias estão protegidas pelo Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de Março.
Uma vez que a maioria das fotografias foram feitas em locais públicos mas sem autorização dos intervenientes, se por qualquer motivo não desejarem que sejam divulgadas neste blog entrem em contacto comigo e serão retiradas de imediato.

 

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