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Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias ....

O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias

 

 

O tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos , labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto,
era a tua pele. antes de te conhecer existias nas árvores
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde,
muito longe de mim. dentro de mim, eras tu a claridade.

 

José Luís Peixoto in A Criança em Ruinas

 

Junho de 2011

Jorge Soares

Flor que não dura

Cardos

 

Flor que não dura 
Mais do que a sombra dum momento 
Tua frescura 
Persiste no meu pensamento.

 

 

Não te perdi 
No que sou eu, 
Só nunca mais, ó flor, te vi 
Onde não sou senão a terra e o céu. 

 

Fernando Pessoa

 

Por estas alturas este tipo de cardo cresce um pouco por todo lado, estes estavam numa zona seca, pelo que não tinham mais que dez ou quinze centímetros de altura, as flores eram pequenas .. mas prometem uma enorme beleza.

 

No sopé da serra da Arrábida

Setúbal

Maio de 2011

Jorge Soares

 

15 de Maio de 2011 , Câmara:SONY DSLR-A350, ISO:100, Exp.:1/320 seg., Abert:6.3, Dist.:200mm

um poema triste

Um Poema Triste

 

 

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

 

 

Mario Quintana - A Cor do Invisível

 

Costa da Caparica

Janeiro de 2011

Jorge Soares

Como um vaso vazio

Flor amarela

 

A minha alma partiu-se como um vaso vazio. 
Caiu pela escada excessivamente abaixo. 
Caiu das mãos da criada descuidada. 
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso. 

Asneira? Impossível? Sei lá! 
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu. 
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir. 

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia. 
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada. 
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim. 

Não se zanguem com ela. 
São tolerantes com ela. 
O que era eu um vaso vazio? 

Olham os cacos absurdamente conscientes, 
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles. 

Olham e sorriem. 
Sorriem tolerantes à criada involuntária. 

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas. 
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros. 
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida? 
Um caco. 
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

 

Álvaro de Campos, in "Poemas"

 

Setúbal, Maio de 2010

Jorge Soares

O meu olhar

 

O meu olhar

 

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.  Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

 

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)                  
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

 

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

 

Alberto Caeiro in Guardador de rebanhos

 

Moinhos do rio Ul,

Parque molinológico

Ul, Oliveira de azemeis

Março de 2009

Jorge Soares

No dia triste o meu coração mais triste que o dia...

 Nuvens

 

Nuvens

 

 

No dia triste o meu coração mais triste que o dia... 

Obrigações morais e civis? 

Complexidade de deveres, de consequências? 

Não, nada... 

O dia triste, a pouca vontade para tudo... 

Nada... 

 

Outros viajam (também viajei), outros estão ao sol 

(Também estive ao sol, ou supus que estive), 

Todos têm razão, ou vida, ou ignorância simétrica, 

Vaidade, alegria e sociabilidade, 

E emigram para voltar, ou para não voltar, 

Em navios que os transportam simplesmente. 

Não sentem o que há de morte em toda a partida, 

De mistério em toda a chegada, 

De horrível em todo o novo... 

 

Não sentem: por isso são deputados e financeiros, 

Dançam e são empregados no comércio, 

Vão a todos os teatros e conhecem gente... 

Não sentem: para que haveriam de sentir? 

Gado vestido dos currais dos Deuses, 

Deixá-lo passar engrinaldado para o sacrifício 

Sob o sol, alacre, vivo, contente de sentir-se... 

Deixai-o passar, mas ai, vou com ele sem grinalda 

Para o mesmo destino! 

Vou com ele sem o sol que sinto, sem a vida que tenho, 

Vou com ele sem desconhecer... 

 

No dia triste o meu coração mais triste que o dia... 

No dia triste todos os dias... 

No dia tão triste... 

 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 

 

 

Reflexos das nuvens do fim da tarde na cobertura .....

 

Parque das Nações, Lisboa

Janeiro de 2010

Jorge Soares

 

O ocaso

Ocaso em Cabo Verde 

 

 

Se penso mais que um momento

 

Se penso mais que um momento

Na vida que eis a passar,

Sou para o meu pensamento

Um cadáver a esperar.

 

Dentro em breve (poucos anos

É quanto vive quem vive),

Eu, anseios e enganos,

Eu, quanto tive ou não tive,

 

Deixarei de ser visível

Na terra onde dá o Sol,

E, ou desfeito e insensível,

Ou ébrio de outro arrebol,

 

Terei perdido, suponho,

O contacto quente e humano

Com a terra, com o sonho,

Com mês a mês e ano a ano.

 

Por mais que o Sol doire a face

Dos dias, o espaço mudo

Lambra-nos que isso é disfarce

E que é a noite que é tudo.

 

                Fernando Pessoa

 

Pôr do sol na Praiinha, Cidade da Praia, Cabo Verde

Fevereiro de 2010

Jorge Soares

 

O Ultimo Sortilégio

 Borboletas

 

Converta-me a minha última magia 
Numa estátua de mim em corpo vivo ! 
Mor4ra quem sou, mas quem me fiz e havia, 
Anônima presença que se beija, 
Carne do meu abstrato amor cativo, 
Seja a morte de mim em que revivo : 
E tal qual fui, não sendo nada, eu seja !"

 

Fernando Pessoa in O Ultimo Sortilégio

 

Num dos meus passeios por aqui à volta, num dia cinzento de Outono reparei neste par de bichinhos.

 

 

Setúbal, Novembro de 2009

Jorge Soares

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