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Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Momentos e Olhares

A vida é feita de momentos, alguns são apagados, levados pelas ondas da vida, outros ficam, perduram na nossa memória e fazem de nós o que somos, olhares, vivências, recordações e saudade! -Jorge Soares

Vamos mengana a usar la maravilla

 

 

Vamos mengana a usar la maravilla
esa vislumbre que no tiene dueño
afila tu delirio / arma tu sueño
en tanto yo te espero en la otra orilla
si somos lo mejor de los peores
gastemos nuestro poco albedrio
recupera tu cuerpo / hacelo mío
que yo lo aceptare de mil amores
y ya que estamos todos en capilla
y dondequiera el mundo se equivoca
aprendamos la vida boca a boca
y usemos de una vez la maravilla.


Mário Benedetti

 

Algures nas Astúrias, 

Agosto de 2014

Jorge Soares

Tão bom viver dia a dia...

 

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

 

Mario Quintana

 

Algures nas Astúrias

Agosto de 2014

Jorge Soares

Eu não tenho gato

Eu não tenho gato

 

Quem há-de abrir a porta ao gato 
quando eu morrer? 

Sempre que pode 
foge prá rua, 
cheira o passeio 
e volta pra trás, 
mas ao defrontar-se com a porta fechada 
(pobre do gato!) 
mia com raiva 
desesperada. 
Deixo-o sofrer 
que o sofrimento tem sua paga, 
e ele bem sabe.

Quando abro a porta corre pra mim 
como acorre a mulher aos braços do amante. 
Pego-lhe ao colo e acaricio-o 
num gesto lento, 
vagarosamente, 
do alto da cabeça até ao fim da cauda. 
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos, 
olhos semi-cerrados, em êxtase, 
ronronando. 

Repito a festa, 
vagarosamente. 
do alto da cabeça até ao fim da cauda. 
Ele aperta as maxilas, 
cerra os olhos, 
abre as narinas. 
e rosna. 
Rosna, deliquescente, 
abraça-me 
e adormece. 

Eu não tenho gato, mas se o tivesse 
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?


António Gedeão

 

Sortelha, Dezembro de 2013

Jorge Soares

Dúvida

Outono

 

Dúvida

 

Eu corro atrás da memória 
De certas coisas passadas 
Como de um conto de fadas, 
De uma velha, velha história... 

Tão longe do que hoje sou 
Que nem sei se quem recorda 
Foi aquele que as passou, 
Ou se apenas as sonhou 
E agora, súbito, acorda. 

Francisco Bugalho, in "Canções de Entre Céu e Terra"

 

O Outono num banco do Jardim don Bonfim

Setúbal, Novembro de 2013

Jorge Soares

Esta deveria ser a hora em que me recolheria

Solidão

 

Solidão

 

Aproximo-me da noite 
o silêncio abre os seus panos escuros 
e as coisas escorrem 
por óleo frio e espesso 

Esta deveria ser a hora 
em que me recolheria 
como um poente 
no bater do teu peito 
mas a solidão 
entra pelos meus vidros 
e nas suas enlutadas mãos 
solto o meu delírio 

É então que surges 
com teus passos de menina 
os teus sonhos arrumados 
como duas tranças nas tuas costas 
guiando-me por corredores infinitos 
e regressando aos espelhos 
onde a vida te encarou 

Mas os ruídos da noite 
trazem a sua esponja silenciosa 
e sem luz e sem tinta 
o meu sonho resigna 

Longe 
os homens afundam-se 
com o caju que fermenta 
e a onda da madrugada 
demora-se de encontro 
às rochas do tempo 

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

 

 

Com um tripé de certeza que sairia mais nítida e sem tanto ruido... mas será que ela se deixava apanhar?

Burgos

Agosto de 2013

Jorge Soares

um labirinto de ruelas.

Castelo de Vide

 

À deserta praça
conduz um labirinto de ruelas.
A um lado, o velho paredão sombrío
de uma igreja em ruínas;
a outro lado, o muro esbranquiçado
de um horto de ciprestes e palmeiras,
e, frente a mim, a casa,
e na casa a grade
ante o cristal que levemente empana
sua figurinha plácida e risonha.
Vou ausentar-me. Não quero
chamar a tua janela… Primavera
vem — seu vestido branco
flutua no ar da praça morta — ;
vem acender as rosas
vermelhas de teus rosais… Quero vê-la…


António Machado


Castelo de Vide

Julho de 2013

Jorge Soares

Diálogo da Primavera

Primavera

 

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado

Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as ideias
o sonho
o passado
o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio.
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.


Carlos Drummond de Andrade

 

Algures no Algarve num dia frio frio de uma Primavera fria

Março de 2013

Jorge Soares

Com uma desconhecida, que amo e que me ama

Primavera casta


Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante
Com uma desconhecida, que amo e que me ama
E que, de cada vez, nunca é bem a mesma
Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende.

Porque me entende, e o meu coração, transparente
Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema
Só pra ela, e os suores da minha testa pálida,
Só ela, quando chora, sabe refrescá-los.

Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro.
O seu nome? Recordo que é suave e sonoro
Como esses dos amantes que a vida exilou.

O olhar é semelhante ao olhar das estátuas
E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda
Inflexões de outras vozes que o tempo calou.

Paul Verlaine, in "Melancolia"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

 

Mértola, Março de 2013

Jorge Soares

Dois amantes ditosos

Aves

 

Dois amantes ditosos fazem um só pão,
uma só gota de lua na erva,
deixam andando duas sombras que se reúnem,
deixam um só sol vazio numa cama...

De todas as verdades escolheram o dia....
não se ataram com fios senão com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras...
A ventura é uma torre transparente...
O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite lhes oferta suas ditosas pétalas,
têm direito a todos os cravos...

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem muitas vezes enquanto vivem...
têm da natureza a eternidade...

 

Pablo Neruda


Com um cheirinho a Primavera... ou, ainda os pardais

Setúbal, Março de 2013

Jorge Soares

 

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