Há um ano foi assim, Pôr do sol em Cabo Verde
Pôr do Sol em Cabo Verde
Fevereiro de 2010
Jorge Soares
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Pôr do Sol em Cabo Verde
Fevereiro de 2010
Jorge Soares
Dois Horizontes
Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro,—
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.
Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais;
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.
Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.
No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.
Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? – Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.
Dois horizontes fecham nossa vida.
(Machado de Assis, in "Crisálidas")
Pôr do sol em Cabo verde
Fevereiro de 2010
Jorge Soares
Passarinha (Halcyon leucocephala) é um guarda-rios com uma grande zona de distribuição que vai de Cabo Verde (ilhas de Brava, Fogo e Santiago),Mauritânia, Senegal e Gâmbia, até à Etiópia, Somália e sul da Arábia, a leste, e África do Sul, a sul.
Este bichinho estava comodamente sentado numa das muitas árvores que rodeavam o hotel, a ver o pôr do sol sobre o mar.
Praia, Ilha de Santiago, Cabo Verde
Fevereiro de 2010
Jorge Soares
O Põr do sol desde a Praiinha
Cidade da Praia, Cabo Verde
Fevereiro de 2010
Jorge Soares
Intervalo
Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?
Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.
Fernando Pessoa
In Cancioneiro
Pôr do Sol na Praiinha, Cidade da Praia, Cabo Verde
Fevereiro de 2010
Jorge Soares