Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande
Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande,
Fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi.
Alberto Caeiro, in "Fragmentos"
Setúbal, Abril de 2010
Jorge Soares
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Como uma criança antes de a ensinarem a ser grande,
Fui verdadeiro e leal ao que vi e ouvi.
Alberto Caeiro, in "Fragmentos"
Setúbal, Abril de 2010
Jorge Soares
Sábado de neblina em Setúbal, pegamos nas bicicletas e vamos até à beira rio. Junto ao Sado o pescador solitário tenta roubar ao rio uma parte do seu tesouro... enquanto lá estive não picou nenhum.
Pescador à beira Sado
Setúbal, Setembro de 2009
Jorge Soares
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre
Pescador à beira Sado
Setúbal, Setembro de 2009
Jorge Soares
Máquina SONY DSLR-A350, Exposição 1/500, Abertura f/8, ISO 100, MeteringMode Pattern, Dist.Focal 200 mm
Um dia morreremos com o corpo todo os olhos mais abertos do que em vida o sangue pesado espesso lívido. Um dia serão as pernas que esquecem os braços será a boca que esquece a língua será a palavra que esquece a memória. Um dia olharemos este invólucro marmóreo e frio por nós abandonado e esquecido de feridas abertas extintas nas cinzas exangues árduas secretas. Mercedes Sosa Rostos da festa do Avante Atalaia, Seixal Setembro de 2009 Jorge Soares Sep 6, 2009, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 100, Exposição: 1/320 seg., Abertura: 6.3, Extensão focal: 120mm