Brincar
Nós não paramos de brincar porque envelhecemos,
envelhecemos porque paramos de brincar.
Oliver Wendell Holmes
Serra da estrela
Dezembro de 2010
Jorge Soares
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Nós não paramos de brincar porque envelhecemos,
envelhecemos porque paramos de brincar.
Oliver Wendell Holmes
Serra da estrela
Dezembro de 2010
Jorge Soares
Inverno
Já o Inverno, expremendo as cãs nevosas,
Geme, de horrendas nuvens carregado;
Luz o aéreo fuzil, e o mar inchado
Investe ao pólo em serras escumosas;
Ó benignas manhãs!, tardes saudosas,
Em que folga o pastor, medrando o gado,
Em que brincam no ervoso e fértil prado
Ninfas e Amores, Zéfiros e Rosas!
Voltai, retrocedei, formosos dias:
Ou antes vem, vem tu, doce beleza
Que noutros campos mil prazeres crias;
E ao ver-te sentirá minha alma acesa
Os perfumes, o encanto, as alegrias,
Da estação que remoça a natureza.
Bocage
Neve no Inverno da Serra da Estrela,
Dezembro de 2010
Jorge Soares
ORGASMO
Deixa que eu te descubra, anónima paisagem,
Corpo de virgem que não amo ainda!
Fauno das fragas e dos horizontes,
Sonho contigo sem te conhecer…
Sonho contigo nua, a pertencer
Ao silêncio devasso e à solidão!
Num pesadelo, vejo amanhecer
O sol e o vento no teu coração!
E é um ciúme de Otelo que me rói!
Só eu não posso acarinhar a sombra
Do teu rosto velado!
Só eu vivo afastado
Dos teus encantos!
E são tantos
E tais!
Que eu não posso, paisagem,
Esperar mais!
Miguel Torga
Para quem se queixou do titulo do post do outro dia... ora, aqui está um titulo quente para uma paisagem bela mas muito fria.
Neve no planalto central da Serra da Estrela
Dezembro de 2010
Jorge Soares
26 de Dez de 2010, Câmara: SONY DSLR-A350, ISO: 100, Exp.: 1/160 seg., Abert.: 13.0, Ext.: 55mm,Flash: Não
Atardecer
siempre es conmovedor el ocaso
por indigente o charro que sea,
pero mas conmovedor todavia,
es aquel brillo desesperado y final
que arrumbra la llanura,
cuando el sol ultimo se ha hundido,
nos duele sostener esa luz tirante y distinta,
esa alusinacion que impone al espacio
el unanime miedo a la sombra
y que cesa de golpe cuando notamos su falsía
como cesan los sueños cuando sabemos que soñamos.
Jorge Luís Borges
Ouvir aqui
Pôr do sol na Serra da Estrela
Dezembro de 2010
Jorge Soares
A maior parte das pessoas pouco mais conhece da Serra da Estrela do que estrada que vai para a Torre, mas há mais, muito mais no Parque natural da Serra da Estrela, bem vistas as coisas, para além da neve, a Torre será talvez a parte menos interessante da serra. Eu não conheço muito, mas acho que o Vale glaciar de Manteigas, onde nasce o rio Zêzere é dos lugares mais bonitos do nosso país... mas há muito mais Serra para além da Torre.
Imagens na estrada de Seia para as Penhas Douradas.
Dezembro de 2010
Jorge Soares
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Fernando Pessoa in O Guardador de rebanhos
Pôr do Sol na Serra da Estrela
Dezembro de 2010
Jorge Soares
26 de Dez de 2010, Câmara: SONY, DSLR-A350,ISO: 100, Exp.: 1/100 seg., Abertura: 9.0 Ext focal: 45mm,Flash: Não
Fim de tarde no planalto da Serra da Estrela
Dezembro de 2010
Jorge Soares
Era uma vez um jovem pastor que vivia numa longínqua aldeia. Por único amigo tinha um cachorrinho, que nas longas noites de solidão se deitava a seus pés sem esperar nenhum gesto, nenhuma palavra. Sofria este pastor de uma estranha inquietação: cismava alcançar uma Serra enorme que via muito ao longe, as terras que existiam para lá da muralha rochosa que constituía o seu horizonte desde que nascera. E muitas noites passava em claro, meditando nesse seu desejo infindável.
Certa noite em que se julgava acordado, sonhou que uma estrela descia até a si e lhe segredava que o guiaria até ao objecto dos seus desejos.
Acordou o pastor mais inquieto e angustiado que nunca, e procurou no céu a verdade do que sonhara. Lá estavam todas as estrelas iguais a si mesmas, imutáveis e eternas aparentemente. Mas estava também uma que lhe pareceu diferente, a mais sua. Passavam-se os dias e o desejo do pastor aumentava, fazia doer-lhe o corpo, ardia-lhe febril na cabeça. De noite, todas as noites, procurava no céu a sua estrela diferente. E em sonhos ela aparecia-lhe muitas vezes desafiando-o, desafiando-lhe sempre a vontade. Mas a vontade por vezes é tão difícil!!
Uma noite, num ímpeto, decidiu-se. Arrumou tudo o que tinha e era nada, chamou o cão e partiu. Ao passar pela aldeia o cão ladrou e os velhos souberam que ele ia partir. Abanaram a cabeça ante a loucura do que assim partia à procura da fome, do frio, da morte. Mas o pastor levava consigo toda a riqueza que tinha: a fé, a vida e uma estrela.
E o pastor caminhou tantos anos que o cão envelheceu e não aguentou a caminhada. Morreu uma noite, nos caminhos, e foi enterrado à beira da estrada que fora de ambos. Só com a sua estrela, agora, o pastor continuou a caminhar, sempre com a serra adiante, e à medida que caminhava a serra ia sempre ali, no mesmo sítio e à mesma distância. Passou todas as fomes e frios que os velhos lhe tinham vaticinado.
Atravessou rios, galgou campos verdes e campos ressequidos, caminhou sobre rochedos escarpados, passou dentro de cidades cheias de muros e gente, mas a montanha dos seus desejos nunca a baniu do coração. Por fim, já velho alcançou a muralha escarpada que desde a infância o chamava. Subiu até ao mais alto da serra e ali pôde então largar o desejo do seu coração, agora em paz e sem desejo.
O horizonte era vasto, tão vasto e maravilhoso, a impressão de liberdade tão avassaladora que o pastor, sem falar, gritava dentro de si um hino de louvor que mais parecia o vento uivando por entre os penhascos rochosos de silêncio.
Instalou-se o velho pastor e a sua estrela com ele, no céu.
O rei do mundo, porém, ouviu falar naquele velho pastor e na sua estrela fantástica. Mandou emissários à serra: todas as riquezas do mundo daria ao pastor em troca da sua pequena estrela.
O pastor ouviu com atenção o que lhe mandava dizer o rei. Depois, olhou em volta. Tudo eram pedras e rochedos. Uma côdea de pão negro e uma gamela de leite as suas refeições. A sua distracção a paisagem "infindamente" igual e diferente do mundo lá em cima. A sua única amiga, a estrela.
Suavemente, como quem sabe o segredo das palavras e o valor de todos os bens possíveis, virou-se para os emissários do rei do mundo e rejeitou todos os tesouros da terra, escolhendo a pequenez da sua estrela.
Passaram os anos e o velho morreu. Enterraram-no debaixo de uma fraga e nessa noite, estranhamente, a estrela brilhou com uma luz mais intensa. Os pastores da serra notaram essa diferença porque a reconheciam também entre as outras, pelo que o velho lhes contava em certas noites.
E desde então a serra passou a chamar-se, para sempre Serra da Estrela".
Retirado de:http://sweet.ua.pt/~deus/seia/lendaserra.html
pôr do sol na Serra da Estrela
Dezembro de 2010
Jorge Soares
Algures na estrada que vai de Seia para Manteigas, na Serra da Estrela, neve, muita neve.
Dezembro de 2010
Jorge Soares